Apesar da minha não vasta experiência, acredito que nem todas as pessoas são as ideias. Já pensei que sim, que o que importa é o sentimento e o que conseguimos extrair daí. Acreditava que ao cultivar a relação era possível ser feliz e fazer alguém feliz. Ingenuidade. Não é verdade, pelo menos no meu caso. Foi da pior maneira que comprovei a incompatibilidade que por vezes existe. Dei tudo de mim, expus tudo o que sentia, lutei por aquilo em que acreditava e quando achei que o tinha alcançado todo o empenho demonstrou-se infrutífero. Não foi possível. Há diferenças que condenam qualquer relação.
Mais tarde vim a agradecer esse meu embate entre a minha ilusão e a realidade.
Hoje acredito que quando se encontra alguém semelhante aí sim é possível viver inteira e intensamente uma relação feliz.
Claro que não quero com isto dizer que encontrei o meu espelho. Não, de todo. Somos diferentes, por vezes até demasiado. No entanto, o essencial é semelhante - a visão que detemos da vida. Partilhamos uma maneira de viver que nos possibilita sermos diferentes à nossa maneira mas alimentando o que temos em comum.
Hoje, consigo entender com objectividade que não seria feliz se não tivesse alguém ao meu lado com a mesma perspectiva desta vida.
Não sei por onde começar. Todos os meus problemas existenciais parecem tão insignificantes perante os verdadeiros problemas mundiais que me remeto ao silêncio, ou talvez seja apenas a uma inexpressão que me envolve. Tenho tudo que me incomoda tão emaranhado que não consigo encontrar palavras que o descrevam.
Porque haverá sempre uma mau estar, uma acção ou reacção condenatória por parte dos que nos rodeiam? Porque me sinto pequena e insignificante face aos outros? Porque me sinto tão inexperiente e com receio de viver? Porque não sou capaz de amar sem temer pelo que me espera como retorno? Porque não consigo enfrentar o que me deixa trémula e incapacitada de modo a alcançar a ideia de querer fazer algo de frutífero?
Tantos porquês. Todos existentes mas provenientes de diversas situações e pessoas.
Amo, sei que amo, mas tenho medo de amar. Vou amando devagarinho, a medo vou dando, passo a passo, dia após dia, e quando penso que tenho segurança em mim logo surge algo que me torna pequena de novo.
Faço, vou fazendo e desenvolvendo o pouco conhecimento que tenho mas quando realmente penso que estou a ser bem sucedida logo surge alguma situação que me faz encolher na minha redoma.
Sinto, sempre senti. Não o faço tão impulsivamente como em tempos mas continua a ser intenso. Alcanço a felicidade quando sei que eu e os meus estamos bem. No entanto, quando creio que consegui conciliar todos na minha vida logo algo irrompe e torno a diminuir.
E é assim...tudo se resume a um labirinto com diversos caminhos que me conduzem sempre ao mesmo sentimento. Continuo a sentir que não consigo viver como quero. Fazer o quero, lutar pelo que quero. Em vez disso, sinto-me imensamente pequena como se a minha existência apenas se moldasse à satisfação "das minhas pessoas", à obtenção do que é certo e racional, a não errar e jogar sempre pelo seguro.
E é assim...às vezes sinto que eu não sou eu...que o eu que quero ser não é este...
Mesmo quando tudo está bem as cicatrizes permanecem. A percepção que permanecerão sempre presentes só agora é uma realidade. Os momentos mais frágeis abrem as feridas tidas como saradas e as memórias massacram o que já foi ultrapassado.
Pensei que tivesse curada. Aliás, acredito que estou. Sofri muito, num silêncio inaceitável por vezes. Julguei que no passado ficassem esses maus momentos e os seus sentimentos adjacentes. Enganei-me.
Ultrapassar é diferente de esquecer. Há coisas que não se esquecem nomeadamente aquelas para as quais tivemos de criar reforços.
Fui atacada de tal maneira por algo que me fez voltar aquilo. Mesmo estando numa estabilidade, ansiada de ser alcançada pela maior parte das pessoas, senti-me frágil, derrotada, insegura. Tal como no passado.
Felizmente, tenho alguém que me resgatou do que me dilacerava, dando-me sanidade para a consciencialização do que tenho hoje e do ambiente propício à cura definitiva desses meus medos.
Não tem dado muito bom resultado pensar na minha vida. Ponho-me a pensar em tudo, num instante faço uma viagem alucinante pelos meus últimos três anos. Tenho saudades de algumas coisas (e pessoas) que perdi, sinto falta dos meus rituais quotidianos que me faziam sentir viva e capaz de aproveitar a vida. Questiono-me acerca da vivacidade que se transformou em algo mais calmo, não tão impulsivo. Assisto à possibilidade de mudanças repentinas, que procuro continuamente mas, que me trazem medo como acréscimo. Medo daquilo que não conheço, daquilo que poderá ser, das consequências das minhas decisões, tomadas por vezes no próprio instante. Até que ponto me consigo identificar nesta corda bamba entre a tendência do comodismo e conformismo de uma vida regular e uma incessante vontade de procurar sempre algo novo, que me faça sentir que aprendi mais um pouco, que cresci mais um pouco.
Tenho certezas de algumas coisas. No entanto, é tudo tão vulnerável às transformações das minhas decisões que fico receosa. Espero e tento sempre que acha evolução mas quando chega à hora e me deparo com a mudança necessito de parar. Assusto-me. Receio.
Recordo o que fui, sinto-me grata por todas as recordações que guardo. Contudo também tenho momentos em que apenas gostava de presenciar aquilo que vivi, aquilo que senti. Ao longo do tempo, vou ganhando a consciência de que há coisas que só se vivem uma vez na vida...e mesmo que tenhamos a oportunidade de vivê-las mais uma vez, passar pela experiência de novo...nada é igual. Os sentimentos mudam, as pessoas tornam-se diferentes e aqueles que julgámos eternos ontem hoje já não o são...
E é tudo isto que, por vezes, me paralisa e me faz tentar não parar e pensar na vida, de modo a não sucumbir às incertezas e apenas esperar que as opções tomadas sejam as mais correctas.
Finalmente disponho de tempo para me organizar.
Com calma, consigo definir o que quero e o que tenho de fazer para o alcançar. Possuo os instantes necessários para fazer uma revisão de como está a minha vida. Agora é a altura certa para desfrutar daquilo de que gosto e aproveitar tudo da melhor maneira.
Há muito tempo que sentia não ter tempo para mim. Para pensar. Embora a minha filosofia de vida, neste momento, se foque mais no viver sem pensar muito, também preciso de parar por instantes. Saborear bem o que aprecio. Preciso de tomar consciência de como terei de moldar o meu presente para não voltar a cometer os mesmos erros...
Afinal, se nos magoamos tanto ao longo da vida, seja por um amor não correspondido ou por um relacionamento falhado porque persistimos em tentar mais uma vez?
É simples. Porque, no fundo, sabemos que qualquer mágoa ou desentendimento é superado pelo sentimento de segurança e auto-estima que um relacionamento equilibrado nos é capaz de proporcionar.
Quem já amou e foi amado saberá certamente a que me refiro...
Não sei se deva sequer tentar enumerar o que nos faz superar o "nunca mais me quero apaixonar para não sofrer" e nos faz cair num mundo cor-de-rosa ao lado da "tal" pessoa - claro que tudo isto numa versão real onde existe uma espécie de conto de fadas estilo século XXI, em que há sempre obstáculos, discordâncias e afins. Tudo barreiras que, a meu ver, são capazes de fortalecer o que já se tem.
Mas voltando ao assunto principal, sem dúvida que o sentimento de termos alguém que goste mesmo de nós acaba por nos fazer deixar de parte, ou mesmo ultrapassar, certos receios.
Falo por mim. Não me arrependo das decisões, por vezes consideradas loucuras, que já cometi pelo que sentia. E tudo o que eventualmente fiz, tenha-se revelado certo ou errado, não foi única e exclusivamente pela pessoa - tipo "faço tudo por ti" - mas por mim, pelo que sentia e pelo que eu considerava certo e por vezes instintivo. É um facto que, nem sempre me saí bem mas até agora o balanço foi, e é, positivo. Não falarei do passado, pois esse, apesar de ter sido necessário para uma aprendizagem futura não é relevante neste momento.
Agora baseio-me no presente. Quando afirmo que ter alguém é bom não quero com isto dizer que é fácil, pois não é. Há sempre algo a manter ou a fortificar. Contudo, tudo é mais simples quando nos sentimos seguros. Sabemos que temos alguém ao nosso lado para o que der e vier. Alguém que saberemos que estará lá quando o dia nos corre menos bem. Alguém que te dá a mão mesmo que em silêncio, por não saber o que dizer para te reconfortar. Alguém que te olha de uma maneira que te faz sentir que essa pessoa gosta mesmo de ti. Alguém que te abraça com a firmeza necessária a te fazer sentir a pessoa mais protegida à face da terra. Alguém com quem o tempo que partilhas parece sempre pouco e farias de tudo para pará-lo de modo a desfrutares de cada momento. Alguém que te faz sentir amada só por se preocupar contigo. Alguém para quem olhamos sempre com uma admiração e interesse extremo, mesmo que seja tua companhia todos os dias. Alguém com quem uma hora parece um minuto e teres a possibilidade de teres um segundo a mais faz-te querer o dobro, o triplo, todo o tempo que fosse possivel. Alguém que...
Poderia continuar a escrever indeterminavelmente sem conseguir caracterizar verdadeiramente o que é ter o privilégio de partilhar a minha vida com quem gosto. Gostar, mas não um gostar qualquer, é daquelas coisas que apenas vivendo-as sabemos o seu significado. E aí sim...saberemos que tudo vale a pena, mesmo com todos os pequenos precalços que apenas nos fazem apreciar ainda mais este sentimento.
Nada dura para sempre.
Reti esta frase depois de ter visto o filme The Curious Case of Benjamin Button, talvez por saber que é uma verdade. Não se trata de um saber intrínseco ou algo de género. É um saber vivido.
Nada dura para sempre.
Já perdi coisas que julguem imperdiveis. Pessoas que pensei eternas vieram assim como foram. Tudo muda. Eu própria mudei. A minha forma de viver adapta-se constantemente ao que tenho, ao que vejo, ao que se enquadra com o que me rodeia.
Nada dura para sempre.
Apenas aceito, apesar desta frase ter ficado a vaguear nos meus pensamentos. Se hoje quisesse descrever tudo o que mudou na minha vida nos últimos meses não o conseguira englobar em meia dúzia de linhas. Precisaria de várias folhas, vários dias, demasiado tempo no qual não seria capaz de transcrever tudo, pois por muito efémeros que sejam certos capítulos só uma experiência insusceptível de representação restou.
Nada dura para sempre.
Assim é. Neste momento, não lamento tal facto. Limito-me a viver o presente sem conseguir prever o que virá. Acho que se deve a um receio que detenho do que virá...mas falar sobre isso ficará para outra altura.
Nada dura para sempre.
Voltei. Embora nunca me tenha ausentado verdadeiramente. Apenas o processo de escrita foi interrompido. Uma incapacidade de escrita momentânea? Talvez. Ou talvez apenas precisasse de viver um pouco mais e de deixar as palavras resguardadas para quando a inspiração voltasse.
Finalmente entendi o conceito de deixar as memórias no passado...
Custou aperceber-me que há pessoas que ultrapassam aquilo que viveram num ápice, deixando tudo demasiadamente longínquo para sequer porem a hipótese de tentar de novo.
Hoje tive consciência que há coisas que já não voltam e que o melhor a fazer é pensar no que vem e não no que foi...
"I close my eyes to see
And it's not the same no
It feels empty"
"Memory is a good thing if you don´t have to deal with the past"
Apenas gostaria de saber se algum dia conseguirei lidar com o meu passado. Continuo a debater-me com uma indignação constante relativamente ao rumo de certas circunstâncias.
O mais incomodativo é presenciar o passado a interferir no presente. Sinto-me condicionada, naquilo que faço ou penso, por aquilo que supostamente deveria ser esquecido.
É impossível. É incontrolável o viver sem uma afectação passada.
Vivo subjugada ao que vivi.
Chego a um ponto de saturação em que se pudesse fugia. Fugia de tudo até encontrar um sitio onde pudesse respirar e conseguir entender quais os actos errados. Não estou bem. Demasiada ambição? Crença ilusória em relação às pessoas?
Tudo me escapa por entre os dedos. Aquilo que julguei realizar-me, as pessoas que julguem serem permanentes pilares na minha vida. Tudo se esvai. Nada fica o tempo suficiente para eu o contemplar e dizer que sou feliz.
Como é possivel ter situações passadas mal resolvidas quando sou a primeira a debater-me com a defesa do esclarecimento de desentendimentos? Como é possível não ter direito a sentir sem que tenha de passar por provas, por vezes incontornaveis? Como é possivel serem mais as vezes que vejo o fracasso naquilo que quero?
Não entendo o porquê da força de vontade nem sempre valer de nada. Não consigo lidar com a incapacidade do "querer". Sinto saudade de quando limitava-me a viver sem ter que me debater com a minha constante dispersão de pensamentos.
Não adianta dizer que não vou voltar a tentar o que quer que seja na minha vida. Não servirá afirmar que não me envolverei emocionalmente com mais ninguém. Não fará sentido ser convicta aquando de um não voltar a confiar em algo ou alguém.
Não.
Conheço-me.
Continuarei, vezes sem conta, a confiar, a tentar, a gostar, a viver, a voar mais alto do que deveria e provavelmente a cair mais uma vez.
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